5ª série, 1990.
Estranho quando você volta para um lugar que você nasceu depois de dois anos. Tentar me reacostumar a algo que eu já estava começando a esquecer e numa idade de mudanças, saindo da infância e entrando na adolescência era algo que fazia minha cabeça girar. Muita coisa ao mesmo tempo acontecendo.
Ao voltar, a gente passou por muitas dificuldades financeiras. Não chegamos a passar fome, mas o pouco que o meu pai, minha mãe meus irmão ganhavam eram para a comprar material para a casa que estava sendo construída. E como três dos quatros que trabalhavam em casa moravam naquele bairro, meu pai pensou e pediu para o dono da casa que era padrinho do meu irmão mais novo que a gente ficasse lá por pelo menos três meses antes de mudarmos para a casa que estava sendo construída.
E quase não sobrava dinheiro para meus pais comprarem o uniforme da escola, mal dava para o caderno e tentava com alguém arranjar um livro para estudar pois não tinha dinheiro para comprar.
Diferente da realidade de meus colegas. Mesmo sendo uma escola pública, a maioria dos alunos era de classe média. Tinham até condições de estudar em escola particular, mas preferiram estudar em escola estadual. Algo impossível hoje.
Apesar de tudo isso, estava gostando de voltar a estudar.
Na primeira semana de aula, teve uma eleição para saber quem seria o "monitor" da sala. Algo que eu nunca tinha ouvido falar e que foi explicado pela professora de Ciências. Era assim, dois alunos, um garoto e uma garota seriam escolhidos para ser responsáveis pelo fechamento da classe e entrega das chaves na diretoria, para ver se faltou algum professor e cuidar da classe quando o professor estivesse ausente da sala.
eu sem saber de nada disso, me candidatei, e ganhei.
Eu e outra aluna.
Aí que começa uma história de um coração partido.
Estava tendo alguns problemas de relacionamento na classe. Como eu não estava sendo um bom "monitor" foi decidido que de mês em mês eram eleitos novos monitores. Além disso eu estava sendo motivo de "chacota" principalmente de uma garota mais velha que começou a tirar sarro de mim, seja pelo meu jeito de falar ou por implicância mesmo. Um dia ela pra fazer graça para os outros ela apontou um lápis e jogou a sujeira na minha cabeça e se fazendo de sonsa disse que era sem querer. Não tive reação, tinha uma vontade de empurrá-la mas como tinham me dito que o namorado dela estudava na 8ª e era um cara grande, não quis arriscar. Ainda estava magro e não aguentaria um murro.
Mas alguém contou pro meu irmão que foi junto com minha irmã e minha mãe para aporta da escola atrás da fulana. Não a encontraram mas encontraram o namorado dela. Quase saiu uma briga feia. Meu irmão o encarou e disse que a namorada dela era isso, aquilo. Uma confusão do cacete!
Depois disso ela voltou só um dia com a mãe dela, mas não para estudar e sim para avisar que ela estava indo para uma outra escola. Ela na porta da classe sorrindo era uma das coisas mais patéticas que já tinha visto.
Um mês depois e algo estranho acontecia. Tudo quanto era sorteio, seja do que for, sempre estavam sendo sorteados eu e a garota que tinha sido eleita comigo para monitor da classe.
E o pior, estava começando a gostar dela.
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